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  • Drauf & Dran fala sobre sua primeira tour no Brasil

    Hoje a coluna detroitbr estreia mais um formato de conteúdo, que será frequente por aqui (assim como os reviews de festas): relato de bate-papo com pessoas diversas da cena. Pra começar vamos falar sobre o alemão Drauf & Dran, que chegou ao país na quinta-feira (08), para uma tour de 10 dias. Estive com ele (que atende pelo apelido de Fips), Rogério Animal e Di Assunção na Yellow DJ Academy pela noite, e pude trocar uma ideia com o DJ.

    A primeira dúvida que surgiu foi quanto à formação do projeto: o nome sugere que é uma dupla, mas no material de divulgação (e diante de mim) havia apenas uma pessoa. Mas Fips explica por que está sozinho: “O projeto é uma dupla sim, mas temos funções diferentes. Eu sou DJ, toco mundo afora e também gerencio a carreira. Há dois anos meu parceiro é apenas produtor, e tem participação única e exclusiva na produção de tracks próprias”.

    O trabalho é grande, mas compensado: Drauf & Dran marcou presença em diversos países no último ano, como Portugal, Itália, Israel, além do país natal Alemanha e outros da Europa. “Tocar em Tel Aviv foi uma das melhores experiências que tive. Lá as pessoas possuem uma energia única, estão sempre sorrindo e divertindo-se à beça.” lembra Fips. “Pena não poder dizer o mesmo de Jerusalém, a cidade aonde você tem que mostrar seu passaporte aos militares umas 100 vezes por dia”, completou. No Brasil é a primeira vez dele, e como de costume, ansiedade está grande. “Ouvi falar que as pistas brasileiras são bem empolgadas, o que é ótimo, já que o meu set tem bastante groove”, exaltou.

    E as origens? “Venho do hip hop, em 2007 lancei neste estilo, mas não obtive sucesso.”, confessa Fips, que tem um passado em comum com a maioria de nós. “Já em 2008 estava tendo contato com a música eletrônica, por intermédio do goa trance”. Drauf & Dran está no Brasil para lançar seu album Colors, e tocará nas datas e cidades listadas abaixo.

    Agenda

    09.05 – Danghai Club (Curitiba/PR)
    10.05 – Move (Francisco Beltrao/PR)
    15.05 – Workshop @ Yellow DJ School w/ Drauf And Dran (Curitiba/PR)
    16.05 – Groover House @ Deck Club (Ponta Grossa/PR)
    17.05 – Nutt Club (Medianeira/PR)

  • Marc Houle faz tour pelo Brasil e se reafirma como um dos ídolos do techno

    Abril foi um mês e tanto. Foram três semanas de muita loucura e, é claro, muita música de primeira. A aventura foi iniciada na XXXperience de Curitiba, que teve apresentações memoráveis de Stimming e Visionquest, seguiu para o segundo carnaval de 2014, com o feriadão de cinco dias coroado pelo talento de Hernán Cattaneo, H.O.S.H e Stimming novamente, e finalmente concluiu sua maratona no último final de semana, com as apresentações de Marc Houle no The Garden e no El Fortin, ambos em Santa Catarina.

     

    A terceira parte da trip começou na sexta-feira à noite. Apesar de termos saído de Curitiba com tempo de sobra, um acidente nos manteve 4 horas parados na BR-376. Perrengue superado, chegamos a tempo de comprar umas fichas, ir ao banheiro e se posicionar diante do palco, pois Marc Houle começaria a tocar em 10 minutos. O live apresentado lá foi bem competente. Um belo equilíbrio entre hits e lados b e com bastante exploração de recursos ao vivo, como os vocais. Foi a terceira vez que vi o alemão insano tocar, tendo sido a primeira na XXXperience 2010 (no lendário Minus Stage) e a segunda no Danghai Club, quando inclusive fizemos o warm-up para ele – diria que este live do The Garden foi mais parecido com a primeira, mas com menos agressividade. Importante notar que o sound system da casa estava aquém do esperado de uma festa deste porte, talvez isso tenha “diminuído” o brilho do artista principal – fica a dica para a organização do evento 😉

    Na pista, vimos um público misto entre frequentadores assíduos da cena e alguns paraquedistas, que com certeza nunca tinham presenciado nada parecido em termos de música eletrônica. Nota-se que é uma cena em formação, e trazer Houle foi uma grande tacada rumo à criação de um público com gostos mais diversificados, além do óbvio que bate ponto em clubs do país todo. Com certeza voltaremos ao local daqui alguns meses e encontraremos uma pista ainda melhor!

    A dura missão de fechar a noite ficou com a DJ Anna que, apesar do seu talento, não conseguiu segurar a pista. Seu set tinha bons momentos, mas parecia não ter unidade, e isso foi esvaziando o club aos poucos.

    No dia seguinte, avançamos mais 120 km no estado vizinho e chegamos a Porto Belo, cidade que abriga o El Fortin Club, um dos maiores do estado. Ao chegar lá já deu pra perceber que a noite ia bombar: cambistas vendendo ingressos em toda parte, e uma fila enorme para entrar. Infelizmente perdemos o warm up da noite, que foi feito por Davi Cecato, mas pudemos apreciar o trecho do seu set na internet:

    Uma vez lá dentro, Kanio já estava se apresentando – e surpreendendo. O britânico percebeu que sua função seria preparar a pista para o artista principal e fugiu um pouco da sua costumeira linha, tocando um techno mais introspectivo e com cara de warm up. Apenas nos minutos finais ele soltou a mão e tocou os hits de minimal que seus fãs estavam aguardando.

    Chegada a vez de Marc Houle, mais surpresas. Se o live de Joinville foi semelhante ao da XXX, este de Porto Belo sem dúvidas foi uma “versão pocket” do que ele tocou no Danghai Club. A atmosfera era ainda mais sombria (contextualizando com o apelido da casa, “trevas”), e ele apostou em mais músicas antigas, da época de Sixty Four, aproveitando-se do público que, em sua maioria, sabia o que os aguardava. O live pareceu mais consistente e o sound system ajudou – algumas pessoas da pista diziam que ele estava “encapetado”!

    Na sequência, a tortura: Groove Delight. De fato tentamos dar uma chance a ela, mas a construção sem começo, meio e fim, sem alma, não foi capaz de nos manter na pista por mais do que 15 minutos. Rapidamente estavamos na outra pista, ouvindo um DJ local cujo nome não sei até agora mandar melhor que ela. A festa se encerrou com Chemical Surf, que até teve um começo empolgante, mas logo já estava em clima de “fim-de-festa”.

    No fim das contas, um fim-de-semana muito proveitoso. Não é sempre que você pode ver duas boas apresentações de Marc Houle, ainda mais passando pela experiência de vê-las em lugares bem diferentes, com público e características bem distintas. O feedback após os eventos está sendo muito bom – pelo jeito, o alemão está cada vez mais no gosto do brasileiro!

  • Modeselektor lança nova música chamada “I’m not into Twerk, I’m into KrafTwerk”

    Bleep, uma das primeiras e mais tradicionais lojas de música digital do Reino Unido, está comemorando 10 anos com uma compilação e uma série de eventos pelo mundo. O VA intitulado Bleep:10 deverá ser lançado no dia 5 de maio e virá com 14 faixas, com artistas como Nathan FakeMachinedrum e Modeselektor.

    A dupla alemão aproveitou a oportunidade para tirar um sarro com a infame dança/rebolado que é bem popular no meio comercial/mainstream americano, graças à também infame Miley Cyrus: sua participação na coletânea se chama “I’m not into Twerk, I’m into KrafTwerk”, prestando ainda uma homenagem aos pais da música eletrônica. Conforme era de se esperar, a música esbanja no uso de sintetizadores, e mantém o clima hipnótico e sombrio característico de várias tracks do Modeselektor.

    Tracklist – Bleep:10

    • 1) Gas – Die Wand
    • 2) Lone – Lizard King
    • 3) Machinedrum – aeolia
    • 4) Oneohtrix Point Never – Need
    • 5) Modeselektor – I’m not into Twerk, I’m into KrafTwerk
    • 6) Untold – That Horn Track
    • 7) Fuck Buttons – Brainfreeze (Alt mix)
    • 8) Dabrye – Click Clack
    • 9) Autechre – SYptixed
    • 10) Shackleton – Ganda Rising
    • 11) Nosaj Thing – Particles Aligned
    • 12) µ-Ziq – Hedges
    • 13) Byetone – Morning
    • 14) Nathan Fake – Vanish North
  • Warung relembra os velhos tempos com sua programação de Páscoa

    Quem me conhece sabe: nos últimos anos tive uma relação de “amor e ódio” com o templo da música eletrônica. Em 2011 cheguei a colocar uma tip na sua página no Foursquare, dizendo que ele é o melhor club do país – tip esta que fiquei tentado a apagar nos anos seguintes, quando os line-ups e a super-lotação constante me fizeram mudar de opinião. No entanto, preferi manter; eu sabia que cedo ou tarde eu poderia mudar mais uma vez meu pensamento. E este dia chegou.

     

    A programação era bacana, mas longe de ser divisora de águas. Hernán Cattaneo, quase residente, era a estrela da primeira noite, enquanto a segunda noite hospedaria um Diynamic Festival completo. Mesmo assim, depois da festa incrível de encerramento de carnaval (com Innervisions, Ben Klock e Nina Kraviz), resolvi dar meu voto de confiança e tentar novamente, com mente e coração abertos.

    Trupe Detroit BR reunida, hora da verdade. O primeiro dia foi dentro do esperado: um Hernán progressivo como sempre, hipnotizando todo o Main Room com seu long set de 6 horas de duração. Todos os fãs do argentino que encontrei na festa tinham a mesma opinião: ótima apresentação, mas longe de ser a melhor dele. Como eu nunca tinha visto um long set seu, fiquei satisfeito com o resultado – especialmente com a hora final. Quando os raios de Sol invadiram a pista pela sacada a inspiração veio de vez para ele, e os sons melódicos deixaram todos em estado de êxtase.

    Além dele, pudemos conferir o live de Genius of Time. Neste caso, talvez a grande expectativa (e a competição com outro live visto recentemente) tenha estragado um pouco o momento: de fato, uma apresentação muito criativa, porém, curta (menos de 50min) e sem “corpo” – não havia começo, meio e fim, não havia história sendo contada. Bem aquém ao que tocaram no Boiler Room, por exemplo.

    Saindo do Warung, a festa ainda estava longe de acabar: o after Detroit BR rendeu mais de 10 horas de puro techno de primeira, com Danee, Cheap Konduktor, Kultra, Alex KameL, Petrius D e André Anttony. A energia do público presente mostrou que realmente este é o próximo “estilo da onda”, e que quanto mais o Warung (e todas as outras casas da região) investir nele, mais retorno terá.

    Depois de uma longa noite de descanso, era a vez do gran finale: Diynamic Festival. Neste caso, a sensação era oposta do primeiro dia, afinal, como ferrenho crítico da linha de deep house apresentada pela maioria deles, não coloquei expectativa nenhuma na noite. Quase nenhuma: na XXXperience o alemão Stimming havia feito um dos melhores lives que vi na vida, e a esperança era de que ele, no mínimo, salvasse a noite. E o que aconteceu é talvez o que mais me empolga nesse mundo da música eletrônica: fomos todos surpreendidos novamente!

     

    Nesta festa chegamos tarde – a noite mais pop tinha uma fila de carros de mais de uma hora. Após entrar, rumamos ao Garden, para tentar ver um pouco de David August, mas foi impossível. A pista estava tão cheia, que ela terminava já no tablado que dá acesso ao banheiro. A locomoção era impossível, e o conforto era sonho. Depois de alguns minutos desistimos da ideia e resolvemos angariar um lugar decente no Main Room, para acompanhar Stimming com tranquilidade.

    Enquanto ele não começava, pudemos acompanhar um belo set de Adriatique – pesado e envolvente, bem diferente do que estávamos esperando. Elogiamos o garoto, mas nem sabíamos o que ainda viria pela frente! Chegada a hora do auge, primeira surpresa: um live mais acelerado, “pegado”  que na XXXperience. Compreensível, tendo em vista o ambiente indoor e o momento da festa (3:30 da manhã). Uma ótima apresentação, mas os fãs (como eu) sentiram falta da calmaria hipnótica do bom e velho Stimming.

    Porfim, era a vez de H.O.S.H. Nunca fui grande conhecer do trabalho dele, mas o pouco que tinha ouvido estava longe de me agradar. Optamos por assisti-lo devido à superlotação do Garden (e também ao fato de que ele merece mais créditos que o Solomun), e não havíamos tomado uma decisão tão acertada durante o feriado todo! Como quem não quer nada, ele foi subindo o ritmo e quando nos demos conta, estavamos nos divertindo muito em um set com fortes influências de techno (de verdade), com viradas muito bem executadas e progressão idem.

    Às 7:30 o line-up oficial se encerrou e foi a vez dos DJs se divertirem. Adriatique e Phono subiram ao palco, e juntamente com H.O.S.H., executaram um versus de 2:00 repleto de clássicos (de Daft Punk a Trentemoller), seguindo a mesma linha forte e envolvente que estava sendo tocada há 2 horas! Foi um encerramento surpreendente e digno para um dos poucos feriados prolongados do ano.

    Problemas? Existiram, claro. De primeira podemos citar a falta de educação das pessoas que, não satisfeitas em ficarem circulando pela pista o tempo todo, o fazem como se estivessem em uma sala vazia, esbarrando e pisando em tudo e todos. Outro fato chato vivenciado e já citado é a superlotação: adianta investir em line-up e estrutura, se o público vai ficar apertado e incomodado como em um ônibus às 18:00?

    Mas tudo bem, são problemas atemporais e que talvez nunca sejam resolvidos. O fato é que finalmente, depois de 3 anos, estou voltando pra casa orgulhoso da tip que deixei no foursquare. O templo é, mais uma vez, O TEMPLO. A boa música, os bons DJs, o bom público está de volta. E nós, só temos a agradecer!

    Que venha Tale Of Us e o resto da programação da baixa-temporada 😀

  • Afinal, é rave ou festival?

    Pouca gente sabe, mas o termo rave é mais antigo que a própria música eletrônica que conhecemos. Seu primeiro uso foi nos anos 50 em Londres, por parte dos “beatniks”, ou “Beat Generation” – uma tribo que pregava o anti-conformismo e a diversão desenfreada. O movimento nasceu nos EUA pós-guerra dos anos 40, mas o braço londrino que se concentrou em Soho que criou a gíria, que servia para descrever qualquer “festa boêmia selvagem“. 

    Em seguida, o rock psicodélico e as bandas de garagem se apropriaram do termo para descrever suas festas – sem contar na variação “rave-up”, que era a denominação de um momento específico da música no qual ela era tocada com maior velocidade, intensidade e peso. Foi só em 1967 que a “rave” encontrou a música eletrônica, ainda que por intermédio do rock: Paul McCartney organizou um evento no Roundhouse Theatre, de Londres, para exibir Carnival Light, um trabalho experimental dos Beatles que até hoje nunca foi lançado – esta inclusive foi sua única exibição pública. O line-up da noite foi totalmente complementado com música eletrônica, com a participação de alguns de seus pioneiros, como Delia Derbyshire e Brian Hodgson. O nome da brincadeira? “The Million Volt Light and Sound Rave” – podemos dizer que foi a primeira rave de música eletrônica da história.

    Depois do fim da cultura psicodélica dos anos 60, o termo caiu em desuso, até ser revivido nos anos 80, com a explosão do acid na Inglaterra. As festas clandestinas, geralmente realizadas em fábricas abandonadas, recebiam o nome de squat parties, mas o contexto geral ficou conhecido como rave scene. Deste ponto em diante a gente conhece bem a história: muita gente bebeu da água do acid, entre eles o goa trance. No final dos anos 90 esta cena chegou ao Brasil, e começou a realizar seus eventos por aqui – as tais “raves”.

    Adentrando os anos 2000, surgiu uma nova vertente originada do goa: o famigerado psytrance. Com uma palatabilidade maior que o goa, o psy ganhou as massas, e em 2006 as raves batiam a casa das 30 mil pessoas – número digno de Skol Beats, maior evento de EDM da época. E finalmente chegamos ao ponto: três parágrafos para mostrar que rave não é sinônimo de psytrance, e a razão pela qual o brasileiro tem esta idéia equívocada, o que causou bastante confusão nos anos que se seguiram.

    Após esse auge em 2006, o psytrance entrou na fase que todo produto, artístico ou não, entra um dia: o declínio. Para manter as festas cheias, foi necessário apostar em outros estilos, e em 2007 começaram a surgir os palcos alternativos com vertentes derivadas do techno e do house (não que o psytrance não seja indiretamente derivado deles, mas aqui estamos falando de coisas como minimal tech, electro house e tech house). E aí que as raves brasileiras tomaram uma decisão estratégica que mudaria pra sempre a cena eletrônica do nosso país: deixaram a alcunha “rave” de lado, e passaram a se intitular “festivais“.

    A decisão foi fortemente rejeitada pelo público, que tendo aquela idéia deturpada de que só psytrance faz rave, se sentiu “traído” pelas festas que tanto amavam. Porém, do ponto de vista estratégico foi um grande acerto, por duas razões:

    1. Como “rave” sempre foi sinônimo de “festa de psytrance”, mesmo com grandes nomes de techno e house no line-up, este público relutava a ir a esses eventos.

    2. Graças à falta de informação ao sensacionalismo da mídia de massa brasileira, o termo rave também foi muito associado ao uso desenfreado de drogas, o que dificultava muito a aceitação destes eventos por parte da sociedade.

    Após tornarem-se festivais, as antigas raves conseguiram sucesso na pluralização de seus line-ups e, consequentemente, seu público. Com o argumento de que “não é rave, é festival”, tornou-se muito mais fácil obter alvarás e patrocínios, engrandecendo ainda mais os eventos. Três anos depois pode-se ver a consolidação da nova estratégia na festa de 14 anos da XXXperience: um palco principal totalmente homogêneo, que ia de Sasha a Paul van Dyk, passando por Calvin Harris, Dubfire e até mesmo Crew; um palco exclusivo da Minus, o respeitadíssimo selo de Richie Hawtin; um palco exclusivo para house music, assinado pela House Mag; e, como não podia faltar, um palco exclusivo para o psytrance, a semente desta história toda.

    Esta mudança estratégica favoreceu a cena toda, até mesmo os clubs. Com os festivais diversificados, os artistas agora possuem mais opções de gigs, o que acaba viabilizando tours brasileiras de nomes que antigamente eram impensáveis. O próprio público, que antes se dividia entre “ravers” e “clubbers”, hoje é um só, e acaba alternando entre os eventos abertos e fechados.

    A atenção de mídia que estes eventos atraem agora é positiva, geralmente ressaltando o tamanho, o público, a estrutura ou a relevância internacional da festa. Raramente vemos matérias abordando assuntos datados e infundados, como falta de segurança, de estrutura ou de qualificação musical. Nem mesmo os excessos de alguns frequentadores é pauta na imprensa – a não ser quando trata-se de veículos tradicionalmente conservadores e sensacionalistas.

    Se hoje gozamos de um grande otimismo com relação ao presente e ao futuro da música eletrônica no país, muito se deve ao “fim da rave”. No fundo, nós sabemos que ela nunca acabou e nunca vai acabar: seja qual for a denominação do evento ou a vertente que toque, a boemia selvagem, a contracultura, o experimentalismo, a psicodelia sempre vão existir. E se a sociedade é hipócrita a ponto de tolerar ou não uma festa por causa de um simples nome, vamos nos adequar e concentrar as energias no que realmente importa: a essência. Vida longa aos “festivais” e ao espírito raver!

  • Richie Hawtin lança versus que gravou com deadmau5 no ano passado

    A ideia desta coluna é antiga, mas demorou a sair do papel. Ao longo do tempo, mudou de formato várias vezes, até chegar neste que considero ideal. A partir de hoje, a pauta principal do site fica voltada para o psytrance e para notícias de interesse geral do mundo da música eletrônica, e aqui no Detroit BR eu irei tratar com mais carinho e menos filtros do estilo pelo qual mais me identifiquei ao longo desta caminhada na música eletrônica: o techno.

    Pra começar, não poderíamos ter qualquer assunto. Por sorte, semana passada Richie Hawtin liberou no SoundCloud o back-to-back que ele realizou com ninguém menos que deadmau5, durante o SXSW de 2013.

    O set é pra techneiro nenhum botar defeito: tem Adam Beyer, Joseph Capriati, Pig & Dan, Plastikman e de tracks de Zimmermann, seja sob alcunha de deadmau5, seja como testpilot, seu novo alter-ego, criado para os lançamentos dessa nova fase. Ao compartilhar este set exclusivo, Hawtin deu boas-vindas para o rato, que agora faz parte da “família Minus” – isso porque sob o nome de testpilot Joel Zimmermann já lançou um EP pelo selo Plus8 – que também é de Hawtin, mas mais conceituado que a Minus. Fundado por Richie e John Acquaviva, teve grande destaque no início dos anos 90 durante a “segunda onda do techno”, tendo em vista que os canadenses precisavam apenas atravessar a ponte para estar em Detroit. Ele foi a casa de hits como Spastik e Sickness & Recovery, e estava sem lançar nada desde 2012. 

    No começo do ano, deadmau5 declarou no Twitter que tinha um album duplo pronto para ser lançado, “algo de que estou orgulhoso”, segundo suas próprias palavras. Será que vem techno por aí? Nesse êxodo generalizado de produtores de “EDM”, fico feliz por ver o melhor deles encontrando uma casa digna pra se abrigar 😉

  • Em entrevista exclusiva, Jeje revela detalhes do retorno da Tribaltech

    A Tribaltech, um dos mais tradicionais festivais do Brasil, está voltando. Após assustar a todos com o anúncio do seu fim em 2012, finalmente os corações dos fãs podem bater aliviados, pois está confirmada uma trilogia “pós-morte”, antes de (talvez) acabar novamente.

    Mas peraí, como assim? Trilogia pós-morte? Reborn, Evolution & Escape? Onze palcos? E o line? Muita informação, não é mesmo? Por isso, resolvemos matar todas essas confusões e dúvidas de um jeito bem prático: uma breve entrevista com Jeje, um dos idealizadores e organizadores do evento. Dê o play e descubra tudo o que está por trás do retorno da Tribaltech:

    Set utilizado como fundo: Matador Monegros Promo Mix

    Serviço

    Site oficial: www.tribaltech.art.br
    Fanpage oficial: www.facebook.com/TribaltechOfficial
    Evento oficial: www.facebook.com/events/250229958515262/

  • Reborn, Evolution & Scape: o que está por trás do flyer distribuído na XXX Curitiba?

    Renascimento, evolução e fuga. Com estes três temas a T2 Eventos, produtora responsável pela edição curitibana da XXXperience, intrigou todo o público presente na rave. A princípio “só mais um teaser”, mas vale a pena recapitular alguns eventos para entender a importância do que talvez esteja sendo divulgado.

    Ascenção, queda e redenção

    Tudo começou há cerca de uma década: após trazer o festival paulista XXXperience para Curitiba algumas vezes, a T2 Eventos decidiu criar o seu próprio festival. Em 2004 nascia a Tribaltech, a primeira rave de grande porte genuinamente curitibana. A “TT”, como foi carinhosamente apelidada, sempre foi conhecida não só pelo seu line-up, mas também pelas inovações que trazia a cada edição – houve ano com palco multicultural, com cinema, com brinquedos, com personagens espalhados na festa… Diversas têndencias criadas na TT e depois amplamente adodatas por outros eventos.

    Tudo isso culminou em 2012, quando a edição daquele ano passou a ser divulgada como a última, tendo inclusive o dramático slogan “The End”. A festa vinha de algumas edições complicadas, que foram afetadas negativamente por agentes externos como o tempo ruim e até mesmo a epidemia da gripe suína. Para a organização, parecia certeiro retomar o auge e encerrar as atividades por lá, mantendo-se como uma “boa memória” na cabeça de seu fiel público. 

    Porém, as coisas brilharam para a TT além do esperado no que seria seu “very last resort”: a edição de 2012 foi o que muitos consideram a melhor e mais completa festa já realizada em solo paranaense. Talvez o próprio anúncio de que seria a última tenha sido o responsável por tanta empolgação por parte do público, afinal, além de todo o line-up e estrutura apresentados, a energia do público foi um dos pontos altos da festa.

     

    O vazio

    Com o fim da principal open air da cidade, o mercado ficou aberto novamente. Núcleos médios e pequenos tentaram crescer e assumir a lacuna deixada, mas infelizmente nenhum deles “deu conta do recado”. Há dois anos a cena curitibana vive uma fase ruim, na qual existiram poucos festivais, muitas festas “de baixo custo” com pouca ou nehuma estrutura e a grande maioria sem grandes novidades em termos musicais.

    Coincidência ou não, até mesmo a XXXperience, que continuou sendo produzida pela T2, parecia ter perdido sua identidade, o que só parece ter melhorado em sua última edição. De qualquer forma, Curitiba clama por uma festa digna de sua história!

     

    Renascimento, evolução e fuga

    Todo o drama parece ter acabado no último fim-de-semana, com o enigmático teaser abaixo, que também estava estampado nas camisetas do staff da XXX e, logo em seguida, foi publicado nas redes sociais do grupo.

    Nós conversamos com o Jeje, proprietário da produtora, e ele garante que não se trata do retorno da Tribaltech – segundo ele, será um novo festival. No entanto, tudo leva a crer que o contrário é a real: a começar pela primeira das três palavras: reborn, ou, renascimento, em português. Fosse um novo, não seria RE, não é mesmo?O outro ponto que nos leva a crer nesta teoria é o poema que complementa o teaser:

    “O fim nem sempre é o final. A vida nem sempre é real.
    O passado nem sempre passou. O presente nem sempre ficou
    e o hoje nem sempre é agora. Tudo o que vai, volta,
    e se voltar, é porque é feito de amor.”

    E aí, alguém ainda acredita que não seja a Tribaltech? De nossa parte, se voltar sendo feita com o amor prometido, só temos a apoiar e comemorar. A boa música agradece!

  • Deadmau5 usa sua apresentação relâmpago no Ultra para aplicar troll do ano

    E Joel Zimmerman, popularmente conhecido como deadmau5, continua “causando” no mundo da EDM. As polêmicas fazem parte do seu dia-a-dia, e a última foi roubar a cena do Ultra Music Festival de Miami deste ano. O rato foi chamado às pressas para o line-up, para cobrir a ausência de Avicii, que foi hospitalizado às pressas por problemas em sua vesícula biliar. Para a revolta de alguns, deleite de outros e surpresa de todos, duas músicas do seu set tiveram um tom duvidoso, e é exatamente essa questão de irônico/não irônico que fez com que o fato fosse assunto no mundo todo neste começo de semana.

    A primeira delas é a Levels, megahit de Avicii que foi mashupado em Ghosts n' Stuff no set. A princípio, uma bonita homenagem, não é mesmo? Até mesmo Tiesto deu os parabéns a deadmau5.


    “O ponto alto do set de deadmau5 no Ultra foi quando ele tocou Levels, de Avicii! #surpreendente”

    Pobre e inocente Tiesto. Se tivesse tempo para internet como Zimmerman tem, talvez acompanhasse todo o hate que ele já espalhou contra a track em questão, sem contar o fato de que o clipe da Ghosts n' Stuff e a música em si remeterem um pouco à ausência desenfreada de limites, problemas que já assolaram a vida pessoal de Avicii mas que sua assessoria jura que não tem nada a ver com a recente internação.


    “Ei, peraí, deadmau5 estava sendo sarcástico quando tocou Avicii? É realmente triste fazer isso com alguém que está no hospital…”


    Ééé Tiesto, você também foi trollado.

    A segunda música, na qual ficou mais claro o troll, foi um mash up de Animals, de Martin Garrix, com Old MacDonald Had A Farm, música infantil que com certeza você já ouviu.


    “Old MacDonald had a farm, ia ia ô”

    A repercussão no geral foi de apoio dos fãs e da imprensa ao suposto troll, que não fora assumido pelo rato. Algum fã (ou o próprio deadmau5, jamais saberemos) criou um bonus track para a história: um abaixo-assinado pedindo para proibir deadmau5 de se apresentar nos EUA. Diante do furor causado pela petição, que possui descrição bem humorada e escrachada, ele não se aguentou.


    “Sim, proíbam a mim de tocar Levels e Animals. Proíbam todos que fazem isso também, assim podemos nos livrar desda merda de EDM comercial. Obrigado.”

    A REVOLTA CONTRA A EDM

    Toda essa revolta parece estar enraízada na decepção de Joel com o mundo da música eletrônica comercial, que tem sido chamado de EDM. Consagrado neste meio, o rato parece estar “de saco cheio” dele, e há cerca de um ano ensaia sua saída. Basta lembrar de alguns momentos do ano passado, como quando declarou que “todos nós apenas apertamos o play”, referindo-se a si próprio e todos os DJs de big room/EDM/eletrônico pop americano/como queira chamar. Em uma publicação-desabafo em seu Tumblr, Joel admitiu o fato de que qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento de música e software poderia aprender em uma hora o que ele faz durante seu live concert.

    Tal post gerou mimimi de todos os lados. Até mesmo Ean Golden deu seus dois centavos à discussão, mas o momento mais interessante foi quando Afrojack tentou justificar sua falta de criatividade fazendo uma analogia com comida.





    Em resumo, Afrojack disse que 99% das pessoas não sabem a diferença entre música trabalhada e música genérica, e que por mais que alguns gostem de pagar por um restaurante caro, às vezes elas querem um Big Mac ou um Whopper. A resposta de deadmau5, contundente: “ok, bem, coma McDonald's ou Burger King por três semanas seguidas. Pois é isso que parece estar sendo socado goela abaixo ultimamente. E se você assume que 99% das pessoas não sabem o que é melhor… Então? Ensine-os. Desafie seus ouvintes. O caso é que 100% das pessoas esperam por coisas novas, sons em constante evolução e composições, novos gêneros, originalidade. Foda-se seu McDonald's”.

    E e se a EDM e o set pré-mixado não servem mais, o que fará Joel Zimmerman?

    INCURSÃO AO TECHNO

    Enquanto joga merda no ventilador da música comercial, o rato está fazendo novos amigos – no submundo, eu diria. Como começou a amizade não sabemos, mas tornou-se pública no SXSW 2013.

    Sim, Richie Hawtin, um dos mais conceituados produtores da história do techno – talvez o mais ativo nos dias atuais, tocou um back-to-back com deadmau5. E eles tocaram techno, dos bons! O fato não ficou isolado: menos de um ano mais tarde, Joel criou o nome testpilot, e começou a lançar techno pelo conceituadíssimo selo Plus 8 usando-o. Sua paixão pela linha soturna e hipnótica do conterrâneo que o apadrinhou parece estar forte, já que para ele, o ponto alto do set no Ultra foi o momento em que tocou techno.

    NOVOS VISUAIS

    Se o lado musical está sendo artísticamente saciado pelo techno, a angústia por ter sua criatividade amarrada a um show visual syncado parece estar sendo resolvida com uma mega reformulação do Cube, seu palco psicodélico. Pouco foi revelado sobre ele, pois ainda está em fase de desenvolvimento, mas alguns testes de campo já mostraram que teremos robôs gigantes e visuais controlados pelo próprio Zimmerman – talvez uma decisão para poder tocar o que quiser e decidir na hora o visual também?

    Bem, diante disso tudo, resta a questão: ele está certo em agir dessa forma? Será mesmo que todos os artistas devem seguir a retidão imposta pelos barões da cena? Ou será que não é mesmo um porra-louca com espírito de rockstar, sem freios e papas na língua, que essa cena precisa para sair da mesmice e voltar a evoluir?

    Independente do que todos pensem sobre o assunto, deadmau5 parece não se importar. Com um álbum de 25 faixas pronto pra sair, o canadense parece estar vivendo a vida dos sonhos, só compondo, tocando e trollando. Aguardamos as cenas dos próximos episódios!

  • Warung realizará festival na Pedreira Paulo Leminski

    De forma surpreendente, o Warung Beach Club, tradicional superclub catarinense popularmente conhecido por Templo da Música Eletrônica, anunciou a realização de seu primeiro festival. O que torna o fato ainda mais inesperado é o local do Warung Day Festival: a Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba.

    Quem é da cidade sabe do que se trata: a Pedreira sempre foi o palco dos principais shows que passaram pela cidade. Os nomes mais marcantes são os do rock – AC/DC, Paul McCartney, David Bowie e Iron Maiden são só alguns exemplos, mas o local sempre recebeu festivais de quase todos os estilos, do reggae ao pagode. Digo “quase” pois a música eletrônica nunca teve algo de grande relevância realizado lá, e esse é um fato que torna o festival do Warung ainda mais marcante.

    No line-up da festa, bons nomes: Dubfire, Paul Ritch, Hot Since 82, Ten Walls e Sharam Jey formam a linha de frente, que se completa com os residentes do club, DJs locais de relevância e o g-house descontextualizado do Amine Edge & DANCE. Quem comparar com o Mystic Stage do último Dream Valley pode achar fraco, mas vale lembrar que aqui o local é uma atração à parte 😉

    A venda de ingresos se inicia no dia 31 de março, e será feita pela rede do Alô Ingressos.